domingo, 27 de dezembro de 2015

O Homem Puta também grita "toca Raul"!

A rotina do bar de Cavalo foi quebrada por conta da atarantada comemoração ao dia do rock. Sim, até no bar do Cavalo os cabeludos de preto apareceram.

O Homem Put@ chegou cedo, como fazia religiosamente todo sábado e logo notou o comentário de Cavalo com Calabresa:
Rapaz, meia dúzia de “roquero” teve aqui para pedir um espaço para comemorar o dia do rock.  Nem sabia dessa porra!

E tem roqueiro aqui? Perguntou cético, Calabresa.

Calabresa é o que alguns chamam de “eclético”, aquele sujeito que ouve tudo, se acha expert em algum gênero musical e não entende nenhum. Uma bucha, até que ele teve certa razão nesse dia...

Tomara que apareçam algumas gostosas. Comentou o Homem Put@ com seu jeito inconfundível.

Esse é o bar do Cavalo:  Ponto de encontro de arrocheiros, axezeiros, pagodeiros e, também, roqueiros!

Cabeça, Baby, Calabresa, o Homem Put@, além de Cavalo, ouviam arrocha quando os tais roqueiros chegaram.  Carregando alguns instrumentos e duas caixas de som, trataram logo de armar o circo. Em meia hora já estavam tocando algo. Sob olhares incrédulos, executavam músicas em inglês ou algo parecido.  O álcool já dominava os presentes quando o Homem Put@ grita já se sentindo parte da turma:
-Toca Raul!

Os homens de preto logo se animaram, mas não deram muita bola. Achavam-se astros norte americanos ou ingleses. Prosseguiram com o repertório alheio.

Deep Purple e Black Sabbath se misturavam aos Beatles que por sua vez eram mastigados com Guns N' Roses em um verdadeiro caruru à gringa. Além do idioma e do cancioneiro importado, copiavam também os trejeitos e a pose dos rock stars. Sentiam-se em Liverpool ou Seattle.

Foi então que Baby, já de saco cheio, perguntou:
Qual a diferença entre isso e pagode ou axé?

O Homem Put@ que observava o movimento responde:
Sinceramente? Só tem macho! Esses caras não tem amigas?

Cavalo:
Pra mim tanto faz. Quero vender cerveja e meu cravinho!  Esse povo bebe profissionalmente e ainda toca de graça!

Calabresa então conclui:
Cabeça vive reclamando que não entende pagode e axé, que é uma música sem mensagem e outros blá, blá, blás...Estamos aqui há mais de duas horas e até agora não entendi porra nenhuma que esses caras estão querendo dizer!

O Homem Put@ grita mais uma vez:
Toca Raul!

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Por Marcelo Letal

Tá tudo errado!

Por Everaldo Starling

Everaldo Starling, ou Eva como é carinhosamente chamado pelas divas da moda, é graduado em História da Moda e Folclore com ênfase em cultura baiana.  Com três livros publicados: O babaçu e a moda (2003), Nas entranhas do fecho éclair – influência francesa na costura (2005) e O homem - um ser vaidoso (2010). Também é personal stylist atuando desde 2007 na França onde trabalhou com os maiores profissionais da área.

Antes de qualquer coisa, quero agradecer aos e-mails e pedir desculpas por ter demorado de escrever a minha coluna aqui no Urbano & Retrô. Como vocês já devem saber tenho uma vida agitada. Estava na Europa e aproveitei para esticar até a Tunísia em busca de novas emoções. Sim, meu bem, se os cartagineses e os fenícios e até os bizantinos puderam, por que não eu?!

Nessa viagem, quando de passagem por Paris, que diga-se de passagem estava mais tranquila com a alta do dólar(odeio esse tipo de gente que só viaja com o dólar em baixa...pobres...af!), noto que os parisienses estão cada vez mais ditando a moda com a sua ousadia. Pude observar, nas mais variadas ocasiões, lindos e lindas usando e abusando de uma peça que aqui no Brasil está em desuso: a camisa de político.

Respondendo à pergunta da leitora Silvinha de Adelaide, que havia mandado um e-mail antes da minha viagem: SIM, a camisa de político é um luxo e nós brasileirinhos, com a nossa mente suburbana, criamos uma barreira, uma bobagem sem sentido contra essa peça que é um coringa em qualquer guarda roupa que preste.

Nas baladas parisienses foi o que mais vi: descolados com as suas “chemises politiques” arrasando! Algumas eram verdadeiras peças vintage. Combinadas com calças skinny de cores berrantes acentuam ainda mais a androgenia tão linda da “cidade da luz”.

De cara lembrei-me de uma camisa de político que aqui no Brasil vai valer ouro. A minha tá guardada e uso sempre que posso. Quem tem uma, trate de tirar do armário!"ACM meu amor". 

Verdadeiras peças  vintage, as camisas de ACM, Cleriston Andrade, Waldir Pires, Cabo Souza e Zé do Titó, combinam com as mais variadas peças. Pode abusar das combinações, prefira mesclar com calças, shorts e saias coloridas. É natural que essas blusas apresentem desgastes ou rasgos do tempo, não se importe com bobagens, isso só aumenta o charme. Ah, para ocasiões mais formais, não se intimide. Para os meninos um blazer combinado com uma camisa de político é o que há! Já as gatas, por que não uma estampa de candidato completando o visual com um maravilhoso short saia assimétrico?



Voltando à minha querida leitora, Silvinha, use e abuse da sua camisa de político. A minha já está reservada para a próxima ocasião. 
Beijos e até a próxima! 

Tá tudo errado!

Por Everaldo Starling


Everaldo Starling, ou Eva como é carinhosamente chamado pelas divas da moda, é graduado em História da Moda e Folclore com ênfase em cultura baiana.  Com três livros publicados: O babaçu e a moda (2003), Nas entranhas do fecho éclair – influência francesa na costura (2005) e O homem - um ser vaidoso (2010). Também é personal stylist atuando desde 2007 na França onde trabalhou com os maiores profissionais da área.



Amei o convite do Urbano & Retrô. Claro que aceitei sem pestanejar. Difícil foi encontrar um tempinho na minha agenda para escrever, mas como o assunto é aquilo que mais entendo fica até fácil.
Na coluna - Tá tudo errado - vou tratar de temas tabus na moda e ensinar de forma rápida e definitiva como usar certas peças, como combiná-las e um pouco da sua história. Vocês irão aprender em cinco preciosos minutos tudo que precisam saber para arrasar. Pelo amor de Deus, aprendam!  
Vou começar por uma peça indispensável no guarda roupa baiano, o coloridíssimo e sempre atual abadá.


Historicamente o abadá pode se referir a vários itens de vestuário, desde um tipo de túnica usada pelos muçulmanos que aportavam no Brasil como escravos até as calças usadas pelos capoeiristas. Mas foi no carnaval da nossa quente e sempre linda terra que ficou mais famoso e divinamente colorido, graças ao genial carnavalesco Pedrinho da Rocha. Ah gente, já ia esquecendo, é uma palavra de origem africana, do Yorubá, trazida pra gente pelos negros Malês. Decorou?
Segundo estudos das mais renomadas escolas de moda da França, o uso consciente de peças como o abadá, sempre trazem consigo a alegria e definem o perfil psicológico de quem as usa. Quem foi que disse que um abadá não serve para ocasiões como casamentos, formaturas e outras cerimônias formais? Tá tudo errado! Pode e deve sim! 

Amparado em recentes estudos, posso afirmar que não só podemos usar nosso belo abadá em solenidades como devemos, até mesmo como uma forma de impor a nossa baianidade linda!

Aqui pra nós, tem coisa mais linda que a mistura de uma peça sóbria como um terno com um coloridíssimo e estonteante abadá? Meninos tentem também uma calça de linho em tons neutros com o abadá. É certeza de abalar!
Para as lindas, as opções são diversas, nada de fatiar o abadá, hein! Alias que coisa chinfrim esse negócio de lascar a peça e dizer que está customizando! Aff... Em outra oportunidade vou escrever sobre essa aberração!
Aproveito o tema para responder a uma amiga que mandou o seguinte e-mail:

Eva, fui convidada para um casamento chique onde a nata da sociedade baiana estará presente e não sei o que usar. Posso usar um abadá? Me ajude!

Olha, amiga, o tema de hoje tem tudo haver com essa sua dúvida!

Estamos na Bahia, sua linda! Por que não combinar o abadá com uma saia longa com fenda lateral, uma clutch transparente e um elegante Louboutin? Mas cuidado, se o abadá for verde cana, prefira um tom neutro para a saia, quanto ao resto fique à vontade, meu bem. Arrase!!!!!!!

Enfim, as possibilidades são múltiplas, beiram o infinito. Mas pelo amor de Deus, abadá para ir à academia, comprar pão, etc, isso nunca viu! Combinado com short então, jamais!
Até a próxima, beijos!






Quer fazer uma pergunta ou pedir uma dica para Eva?
Deixe nos comentários!

Por Marcelo Letal

A revolta das Caxirolas! (O Homem Put@ estava lá)



Nosso amigo até que tentou protestar influenciado pelos comentários carregados de paixão que ouviu durante a semana no bar de Cavalo. Foi às ruas, levou até cartolina e um piloto. A frase ficou de criar na hora. Sentiu-se deslocado. Quem eram aquelas pessoas ao seu redor? O largo estava cheio. Pensou em uma frase de efeito para pôr na cartolina. Nada vinha à cabeça. Tentou colar dos companheiros de causa ao lado. Mas que causa, por que ele estava ali mesmo? Pensou, pensou... e nada. Foi então que avistou um ambulante: Três “piriguetes” por R$5,00. O álcool pode dar uma ideia, pensou. A primeira desceu como um comprimido. A segunda ele já saboreou. Com a terceira ele já olhava as manifestantes com olhos de rapina. Comentou com o ambulante:
- Tem até mulher com cabelo no sovaco e no peito, não é irmãozinho?

Quando percebeu que os manifestantes começaram a se movimentar, sacou mais R$5,00 e preparou seu kit passeata.
- Arruma um saco e manda mais três aí!
A essa altura nem sabia onde havia deixado sua cartolina.
À medida que avançava, cartuchos de “piriguetes” ficavam para trás assim como a sua ideologia.  Encontrou uma caxirola no chão. Pelo menos tinha algo para sacudir e fazer zuada. Ficou contente com o achado, por um momento pensou na sapiência do seu inventor: “Como conseguimos viver tanto tempo sem essa maravilha?”.
De repente, estouros de bombas, correria, gás de pimenta. A truculência espontânea, quase que natural da PM. Os olhos do nosso amigo encheram de lágrimas e não eram lágrimas de emoção. Irritou-se, xingou a plenos pulmões:
- Cara..o, filhos da p#t@!
Tomou um tombo de um manifestante e retribuiu com um chute. Correu, tropeçou, caiu, perdeu sua caxirola. Aproveitou a situação entrou na primeira transversal e pensou: “Pimenta só no abará!”.
Voltou pra casa andando, arrependido, sem caxirola e sem causa pra lutar. Era o Homem Put@.


Por Marcelo Letal

Pizza com espartilhos

O amor não parecia ser algo sublime para o Homem Put@. Nas rodas de amigos costumava falar que mulher só prestava na horizontal e se vangloriava em lembrar que o seu finado avô contava que só dava bom dia às mulheres por elas terem uma bo... Só que naquele dia seria comemorado o Dia dos Namorados e ele havia esquecido disso.

Foi durante o happy hour no bar de Cavalo, que escutou Cueca falar para Zé que levaria a esposa para comer um mocotó em comemoração à data. Adorava mocotó, mas sua companheira tinha problemas de flatulência o que inviabilizava tal ingestão. Preferiu não arriscar temendo o que poderia vir depois, já que a última experiência a dois com essa iguaria não foi nada agradável. Não dava mais tempo para comprar um bibelô. Lembrou-se do mercado no caminho de casa.

Enquanto o nosso amigo vagava por entre os corredores do mercado, em casa a sua mulher se preparava para uma noite diferente. Não só abusou da Alfazema, como quase acabou com o Leite de Rosas. Havia passado a tarde procurando o espartilho que ganhara da mãe como presente de casamento. Já estava desistindo quando o encontrou em uma caixa que estava guardada há anos em cima do guarda roupas. Àquela altura o espartilho mal cabia nela, porém, com boa vontade, conseguiu se encaixar a peça. Uma calcinha fio dental completou o visual.

Pizza foi o que o Homem Put@ encontrou de mais barato e prático. Faltava algo para esquentar o romance. Pensou no bom e velho conhaque, mas optou por uma garrafa de Sangue de Boi, foi o que o dinheiro permitiu.

Ela planejou tudo. Mandou a filha dormir com a avó. Deixou a luz da sala apagada para criar clima. Postou-se cheirosa para o amor. Ao entrar em casa, o Homem Put@ estranhou a pouca luz e já foi perguntando se a lâmpada estava queimada, não estava acostumado a cenas românticas. Foi então que percebeu, à contra luz, que a sua mulher estava diferente, foi como se voltassem a época de namoro. O tempo só foi suficiente para colocar a pizza no forno e abrir o vinho enquanto admirava em silencio a sua amada. Foi então que, já curiosa, ela perguntou se ele havia gostado. O Homem Put@ continuou em silêncio saboreando o Sangue de Boi. Após alguns segundos, nosso amigo responde:
- Toda grande, hein mainha?!    


Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que dizem!


Quando Itacaranha chegou ao bar de Mário Cavalo falando de coisas como Art Nouveau e fazendo uma confusa ponte entre a Belle Époque e a música de Jorge Vercillo, logo Calabresa tratou de desqualificar o aspirante a filosofo com um dos seus mais míopes pensamentos: - Não gosto de nada que é cultural! A conversa encerraria aí, não fosse a violenta entrada de Baby: - Deixe de ser estúpido, Calabresa! Você é ridículo! Aliás, esse aumento na tarifa de ônibus é culpa sua! Minha? Indagou Calabresa. Claro!  Retrucou o impávido Baby prosseguindo com o seu raciocínio: - Sendo a tarifa calculada pelo número de habitantes, e você sendo um sujeito que nunca saiu daqui do bairro, portanto nunca pegou um ônibus, estamos pagando a sua parte!

Em outro canto do bar, Tonico, ao observar dois jovens no estilo sabiá (fortes em cima e com finas pernas) que passavam em frente, afirma: - Essa onda de malhação vai aumentar o número de viados! No que, de imediato, o Homem Puta não só concorda com ele, como ainda o encoraja: - É isso mesmo, irmãozinho, agora você disse tudo! Nessa hora Tripa dá a sua colaboração e, com ar de maioral, dispara oblíquo: - Não tenho nada contra os homossexuais. Eu sou contra apenas as pessoas tortas perante a nossa sociedade!

- Cavalo, te devo quanto? Já fui!
marcelo letal

Paulo Rexonna!

A moda realmente é algo que merece ser estudado como fenômeno comportamental. Bom, deixemos as especulações para os intelectuais. O que nos interessa agora é falar de Paulo Rexona.
Anos 80, roupas em cores fortes, o chamado “brock” tocando nas rádios... Blitz, Barão Vermelho, só para citar alguns.
A praia refletia o período colorido e isso não era visto só no verde cana das pequenas roupas de banho. Uma curiosa e estranha moda entre os frequentadores das praias era a descoloração dos pelos pubianos à base de água oxigenada. Sempre achei e acho aquilo tosco. Mas vamos lá...
Esse era o habitat de Paulo Rexona, porém ele não usava sungas pequenas como ditava a moda, nem deixava os pelos pubianos à mostra. Ao contrário, procurava usar sungas grandes antecipando aquilo que alguns chatos chamariam de tendência.  Paulo chamava atenção não pela beleza muito menos pela conversa. Mas não passava despercebido. Ostentava um avantajado órgão sexual que curiosamente estava sempre pronto para ação, isso em uma época onde não existia Pramil na Feira de São Joaquim. Apesar desse dote, não fazia sucesso entre as mulheres e era motivo de piadas por todos da praia.
Paulo já era uma figura mítica antes mesmo do fatídico domingo de ações de graça de 85. Após cortejar com palavras nada elegantes uma bela garota que estava tomando banho de mar, que de imediato passou a gritar e chama-lo de tarado.

De imediato a garota recebeu o apoio de banhistas que, revoltados com a abordagem de Paulo, iniciaram uma discussão que acabou em troca de tapas. Tapa pra lá, tapa pra cá, até que no meio da confusão cai por entre as pernas de Paulo o seu segredo. Um tubo de desodorante Rexona. Naquele momento a briga deixou de ser relevante. Restando a Paulo  catar seu Rexona e entrar para a história.